Críticas Noturnas
A noite fria pôs-se a cantar,
Escutaram atentos os frutos da ignorância,
Que por sua mais profunda ganância,
Tudo que é belo assim irá se acabar.
Mórbida será a voz dos corredores,
Que nunca irá se calar,
E isso só irá aumentar,
Fragmentos de suas vidas de horrores.
Só entre a multidão que cerca,
Pedaços de vozes e risos em coro,
Sem saber de suas "vidas felizes sem choro",
E sua alma pobre só quer ser liberta.
Voar por caminhos invisíveis,
É a saída de sua prisão,
Que na célula mais profunda do coração,
Teme as própias pragas insensíveis.
Que balbucia no auge da decrepitude,
Que não existe fuga,
Não foi inventada a cura,
Para esta sem-razão da falta de atitude.
Etiene Dalcol - 30/05/2004
Notas de uma sombra corrompida
Não posso com a vida acabar,
Pois ela eu jamais possuí,
Seu gosto eu jamais senti,
E com ela eu só queria amar.
Dos amigos que eu já vim a ter,
Bons tempos assim vieram.
Tempos que por eles eram
O que eu jamais tornarei a ver.
Da vida rudimentar que talvez vi,
Faltam muitos bons momentos,
Foram poucos contentamentos,
No curto período em que vivi.
Pois agora não vivo mais.
Fui simplesmente enterrada.
Sou apenas a sombra exalada.
Do que um dia fui atrás.
Das trevas eu me alimento.
No sofrer, eu me encanto.
Da dor no meu recanto,
Sustento meu corpo sangrento.
O cheiro acre do corpo putrefato
É meu perfume das rosas cálidas.
E em minhas nuances pálidas.
Realçado é meu corpo fraco.
Meu espírito negro brilha,
Minha alma obsoleta grita,
Minha cabeça gira,
No tempo em que tudo pra mim apodrecia.
Da frigidez amarga que me fiz,
Besta infectuosa me tornei.
Pior irás ficar, eu sei
Que a noite fria diz.
Assim a sombra a mim corrompe,
Pois minh`alma não tem saída,
Lúgubre é a minha vida,
E eu a vida afronte.
Etiene Dalcol - 26/05/2004
Vida solitária, dor diária
Eu: palavra forte de grande impacto.
Tudo era, agora nada.
Invariavelmente por um simples fato,
Escureceu-se a minha mente,
Nublou-se a minha alma,
Esmagada e pisada como um simples rato.
De repente, sem nem parar para explicar,
A felicidade se foi e nada ficou a restar.
Como o chão sob meus pés,
Reais são os medos meus.
Uma dor, um sufoco, uma lágrima,
Zombaste de mim, meu Deus.
Deus: palavra que agora me é estranha.
Amargo, frio, longínquo, inexistente.
Literalmente revira minhas entranhas
Como um sopro podre que me infecta
O corpo morto de esperança.
Livra-se de tudo e nada se alcança.
Etiene Dalcol - 23/05/2004
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